detalhando a libido

selva
1 min readMay 26, 2021

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o meu amor está nas noites em que os insetos zumbem. que o cheiro de suor se infesta como antiga praga.

[corpos molhados, animismo com anfíbios do pântano]

a imagem de duas lagartixas se esfregando com força nas paredes úmidas, emboloradas.

o meu amor está no pequeno arranhão de um disco de bolero – que faço de mantra, oração cubana – aquele que coloco religiosamente todo sábado.

nós ficamos iguais duas abelhas — tontas, alvoroçadas. embriagados pelo perfume de gardenia & algum destilado.

o meu amor está na repetição. do meu cabelo que sempre enrosca na tua medalhinha de são cipriano. na alça daquele velho vestido vermelho que insiste em cair. talvez pra quem sabe fazer teus olhos chegarem aos ombros & repousarem nos seios [que ficam mais próximos do meu coração, esse buraco oco, faminto].

o meu amor está naquele que dançaria mesmo descompassado. apenas pelo prazer arcaico e um pouco tolo de enlaçar a fêmea. só pra soltar e puxar novamente com força. reprisando movimentos de caça como aqueles que descendem de uma tradição de grandes toureiros, laçadores ou campões de vaquejada.

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